SEDUÇÃO À MALDIÇÃO
Escolhi — e até vesti
meu aleatório traje de mortalha.
Também já repouso
dentro do caixão sereno,
à espera de que a Senhora dos Destinos,
órfã do apreço,
venha a tampa fechar.
Ela, espírito selvagem,
tão imprevisível e tão óbvia,
não se interessa por oferendas "tom pastel".
Seu deleite é a caça.
Ignora a carne macia da aceitação,
que não adoça seu paladar.
E eu, que me ofereci
em boa vontade ao seu ofício,
fui desdenhado.
*Eis que sou águia, não urubu...*
Sou bela e cínica,
encanto o desencanto.
Sou vaidosa,
e a luxúria me atrai.
Não lhe desejo, porém,
moribundo aos cantos.
Seu abraço gélido
sutilmente encaixará
quando o coração estiver flamejante.
Não teme que eu a traia
com pacto a outra deusa —
tem segurança de que sou dela.
Paciente, ela aguarda
o momento mais inoportuno
para asteiar sua foice
e colecionar pranto alheio.
quarta, 14 de maio de 2025