FILHA DA DOR
Meu coração não está em paz;
aqui, respiro uma guerra interminável.
De joelhos, me ofereço em rendição...
estou deixando meus inimigos vencerem
e fazer do meu corpo, seu estandarte.
A tortura é o brinquedo do seu bel-prazer...
Sem armas, nem sangue,
o tempo é quem faz todo o serviço,
e, do lado de lá, também não há o menor interesse na vitória.
As minhas lágrimas são seus sorrisos,
e, dia após dia, em quadros cinzas,
eu lhes sirvo uma taça do mais refinado sofrer,
que os deixa embriagados em sua alegria sádica.
A morosidade das horas forma o cenário propício para a dor.
Já abri mão de toda glória.
Acordo sempre num grande vazio...
Dormir é um sofrer de pura inspiração...
A flor da poesia se hidrata da tormenta
e sua fragrância ouriça meus demônios.
De modo a irritá-los, eu aceito a penitência.
A bandeira da paz que ergui
foi manchada de roxo pelas imperdoáveis lembranças.
Condenação é se manter vivo,
prisioneiro da consciência de quem sou.
É um cabo de guerra que ninguém puxa...
Enfim,
vai continuar a ser assim:
num doce conflito...
que eu mesmo plantei em mim.
domingo, 11 de maio de 2025